LUZ NO FIM DO TÚNEL: ICMS PARA VEÍCULOS PODE DIMINUIR EM 2022.
- Wagner Santos
- 19 de out. de 2021
- 4 min de leitura

"Seu carro usado vale mais que há um ano. Sabia disso?"
Não é incomum encontrar alguém na Baixada Santista que, ao fazer uma avaliação em seu carro, ouça do avaliador que seu veículo vale de 20% a 25% a mais do que pagou há um ano. Nesse momento, alguns se assustam, outros desistem da venda e preferem aguardar para ver se o valor do carro sobe mais um pouco, o que causou uma debandada de ofertas de veículos seminovos à venda no mercado. E não se engane em pensar que se a venda de carros zero quilômetro diminui a de seminovos aumenta, pelo contrário. O mercado reaquece apenas com a compra do carro novo e a troca do usado. Não vamos falar sobre economia global, preço dos combustíveis, aliás só esse ponto já seria fator para justificar qualquer aumento. Vamos falar sobre o real motivo desse aumento: ICMS. O Governo de São Paulo, entre várias modificações no final de 2020, aprovou na Assembleia Legislativa, a majoração de 207% no Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. Isso causou um impacto enorme no mercado automobilístico. O comércio que ficou fechado meses já havia feito suas vítimas, mas para quem estava na “UTI” a expectativa seria de melhora, no caso do comércio, o retorno das vendas. O aumento gerou um ágio no mercado e quem tinha veículos e precisava vender percebeu a enorme procura e os preços aumentando. Não demorou muito para que as pessoas decidissem esperar mais para negociar seu veículo pensando que o preço aumentaria ainda mais, e foi exatamente isso que aconteceu. O valor do seminovo aumentou de 15% a 20%. Outro fator que ajudou no aumento foi a baixa produção de carros zero quilômetro que diminuindo, causa um efeito dominó, pois não há renovação da frota. Para muitos revendedores, a situação ficou ainda mais complicada, pois o vendedor agora é qualquer um; eu, você, quem tem um carro e quer vender e não mais a concessionária. A demanda cresceu, mas a oferta é baixa, o imposto subiu e os custos operacionais também. Pronto! A cadeia começa a ruir e o paciente que estava na UTI se torna a próxima vítima. Mas ainda há quem sobreviva nesse cenário, trabalhando para gerar empregos e ajudar o Brasil a sair desse momento de instabilidade que vivemos. É o caso do Roniclercio Soares Silva, proprietário da Roni Motors, que fica na Joaquim Távora, 32, na Vila Mathias, em Santos. Roni, como é conhecido, tem uma história de vida daquelas que se parece com o sonho americano. Era frentista de um posto de gasolina em Santos, mas queria mais da vida. Percebeu logo cedo que era vendedor nato e seu poder de comunicação o fez em cinco anos construir uma loja de encher os olhos com carros seminovos que parecem zero quilômetro. Quando estava no auge e se preparando para expandir seu negócio, veio a pandemia do coronavírus. Isso não fez encerrar os planos, apenas adiá-los. Aconteceria no pós-pandemia agora em 2021, quando todos acreditavam que voltaríamos ao “normal”. Situação enfrentada ao redor do Mundo. Mas, estamos no Brasil e “aqui não é para principiantes”, como disse Antonio Carlos Jobim, numa citação ao eufemismo que se perpetua em terras tupiniquins de dizer uma coisa quando, na verdade, se quer dizer ou fazer outra, e vieram as exceções das decisões políticas por causa do coronavírus e o fizeram adiar ainda mais esse crescimento. A pior delas foi o aumento do ICMS. Para Roni, o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços é o “vilão” do alto valor na compra e, consequentemente, na venda de um veículo. Durante a pandemia, sua loja também fechou, mas ele continuou trabalhando através das mídias sociais que o ajudaram muito, pois um comercial numa mídia convencional, TV por exemplo, ainda mais naquela situação seria impossível. Como muitos proprietários de lojas, Roni também participou de movimentos pedindo a diminuição do imposto, chegou a ir a São Paulo numa carreata na avenida Paulista, mas não foram atendidos. Para ele, essas decisões não deveriam ser apenas impostas, mas discutidas com a categoria, com a sociedade. O comerciante justifica que o assunto poderia – se não fosse político e para arrecadação – ser resolvido em casa, no estado, evitando a repercussão negativa do aumento no Brasil inteiro. “Minas Gerais ultrapassou os emplacamentos de São Paulo pela primeira vez na história. Por que isso aconteceu? A política não é a de espremer o comerciante que é um dos que mais pagam a conta das decisões estaduais, a política de Minas aqui do lado, na divisa com São Paulo, é de fomentar o comércio e aquecer o mercado”, diz Roni. Ele explica o quanto o imposto alto implica no valor final da venda. “Um carro, do modelo Captur 2018 da Renault, que custa R$65 mil em média, em São Paulo, hoje você vai pagar 85 mil. É um absurdo!”, desabafa. “Com toda correria consigo vender a mesma quantidade que antes do aumento, mas meu faturamento caiu mais de 30%, o que me faz reorganizar tudo, loja, carros e até funcionários. Não tem jeito! E não podemos esquecer que se o carro aumenta, o IPVA, 4% do valor do veículo, também aumenta, viu?!”, alega o comerciante. Roni atribui suas vendas ao atendimento personalizado, indicações, estrutura, localização, qualidade dos carros e a divulgação de tudo isso nas mídias sociais. Caminho que encontrou para diminuir os custos da propaganda caríssima na TV. A notícia boa é que, após encher os cofres por um ano inteiro, o Governo de São Paulo acenou para diminuição do ICMS em 2022. Na verdade, o imposto deve voltar ao patamar de antes do aumento, um respiro para quem enfrentou pandemia, perda de entes queridos, comércio fechado e ainda recebeu a conta. E acontece no ano da possível volta do carnaval e na certeza de eleições para Presidente, Governador, Deputados Estaduais e Federais. Coincidência? Responda você, mas não esqueça de que ter “memória” é o melhor remédio nas urnas.

Jornalista e Redator
Willian Leite